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MINHAS MANHÃS

por feldades, em 18.09.15

O dia nasce prazenteiro. No pé de acerola, a passarada festeja numa babel em que todos, como os mineirinhos, falam ao mesmo tempo e assim se entendem. Eu, que entendo os mineiros, não compreendo nada do que dizem os passarinhos. São os mais variados bicos, idiomas e plumagens. Há também um casal de pombinhas silvestres querendo nidificar nessa árvore. Estes não têm capricho e seu ninho não passa de um amontoado de gravetos. Mas como são belas as juritis! Bebo cada gota desta manhã, que mal começa e já envelhece. Uma brisa sopra levemente, levando com ela minha manhã e a minha inspiração. Ainda há pouco era noite escura.

 

***

 

Passaram alguns dias desde o início desta crônica. As pombinhas já fizeram o ninho e uma delas está sempre em repouso. Neste momento vejo o casal: ele cofia as penas, enquanto a companheira continua aninhada e vigilante. Um pássaro de outra espécie vem xeretar, mas não há conflito entre eles. De tão amistosos, parecem velhos compadres. Os nubentes talvez não deem conta do perigo que mora embaixo. Espreitam-nos três cães: Pituka, Tokinho e Tiziu, que não se compadecem de bicho de pena. Este último compôs a matilha recentemente. Vagava por uma rodovia, prestes a partir para o ‘Paraíso dos Bichos’ – se é que existe um paraíso para eles. Acredito que sim, porque o Criador não os deixaria no ‘limbo’. No fim dos tempos, todos nós nos encontraremos na ‘Comunhão das Criaturas’. Assim penso, embora esta minha teologia seja tola para os doutos, reconheço e não me importo.

 

***

 

Volto à crônica. Enquanto o Tiziu duela com a Pituka, observo o ninho das pombinhas. No rádio, uma orquestra, acho que de Viena – se não de Viena, de Berlim. Gosto de citar orquestras germânicas, porque elas parecem agregar sofisticação aos meus textos (!). No pé de acerola, outra orquestra menos sofisticada do ponto de vista humano: bicos, muitos bicos, emitem seus tons e semitons sem necessidade de maestro nem batuta. Aqui dentro, apenas Tokinho e eu. Nem sei se Tokinho está ouvindo as orquestras. Parece mais preocupado em destruir um chinelo, que já foi meu e que Tiziu pegou emprestado para “consertar”, devolvendo-o sem correia. Mas a pombinha continua lá, pensativa, desconfiada de mim e sonhando com dois ‘biquinhos’. E já se foi mais uma manhã.

 

***

 

Retorno após uns dias. No aparelho, João do Morro & Pé de Serra cantam ‘Prato do Dia’: uma ode à bravura dum pai de família frente a um cafajeste.  Os cães saíram e me deixaram. No rádio, agora é a dupla Duo Guarujá com “Cabecinha no Ombro”. Na aceroleira, uma mãe toda feliz alimenta dois pimpolhos.  Encantadora manhã! Mas, que se vai.

 

***

 

Estou de volta. Tokinho masca uma coisa preta e redonda parecida com um pastel: meu finado chinelo. Lá fora, um bater de asas me desperta da leitura e um dos filhotes é predado. Não há tempo. O corpinho desfalece e o bico sangra. Ah, Tiziu! Mas o irmãozinho escapa. Vai crescer, emplumar-se e partir.  Poderei observá-lo durante todo o estágio: o primeiro voo cambaleante, o choque com os galhos, a queda... (um alambrado salvando vida!). Deste lado, os caninos da Pituka furiosamente brancos. Do outro lado, olhos arregalados, corpinho trêmulo, asas em desconcerto.

 

***

 

Finalizo finalmente. No velho ninho, outra pombinha, que trará novos pombinhos. E em tempos de crise, tudo se aproveita, não é juriti? Mas cuidado com o Tiziu! É mais uma manhã que passa, como passam as juritis, seus ninhos mal feitos, seus filhotes e seus tristes cantos. Passam as manhãs, passamos nós. Tudo é tão fugaz... Como a vida, os amores juvenis e os ninhos das juritis.

 

FILIPE

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O ESCOLHIDO

por feldades, em 12.09.15

Publicado originalmente no "blogdofilipemoura" em 21/09/2012

 

A tarde começava seca, poeirenta e, mesmo sendo inverno, fazia calor. De súbito, um charreteiro puxando pelo cabresto seu cavalo, que por sua vez puxava uma charrete abarrotada de tralhas, chegava. Trazia consigo umas sacolas com algo semelhante a macarrão, pães e outras miudezas. Algumas dessas sacolas estavam penduradas nas ferragens; outras, porém, jaziam sobre a “mercadoria” que inspirou este texto.

 

 O homem, dono da charrete, do cavalo, das tralhas e de tudo o que transportava, é um senhor já com o bico da botina na terceira idade, mas com fumos de juventude. Quem o conhece, sabe de suas vaidades e preferências juvenis. Mas, é outro o objetivo deste escrito. Pouparei o leitor dessas descrições e me abstenho de falar da vida alheia.

 

“Toma, menino... Carne! Não quer levar pra você?” Mal acabou de dizer tais palavras, foi arrancando de dentro de sua charrete uns ossos ensanguentados e os atirou a uma matilha esfomeada, que se aproximava. Sobre aquela barafunda, havia uma cabeça bovina que exibia dois cortes profundos. Morta a machadadas, a rês fora atingida pela lâmina da ferramenta pelo menos duas vezes. Um corte aparecia à direita e acima, bem próximo à cavidade ocular esquerda; o outro, mais profundo, no meio do crânio. “Menino, deu um trabalho danado!...” – dizia, enquanto descarregava parte da mercadoria e continuou.

 

“Precisa ver, moço. Lutaram com ele a noite inteira. Tinha dezessete arrobas! Cê num gosta disso não, né? Mas o bicho foi feito pra morrer..., senão, nóis num come carne. Né, Zezé? Aí, o Zezé, seu pai, sabe!...” Foi dizendo essas e outras coisas enquanto separava umas partes para o  Adão, para o irmão e para mais alguém. Parou por um instante e observou que um pedaço, que atirara aos cães, estava bonito. Pegou de volta, mesmo estando sujo da grama seca e do pó do terreiro. “É só lavar, né menino? Aí, só de passar a mão já fica limpinho... Vou dar pro Adão, pois tem muita carne nele e o Adão gosta. Acho que o cachorro nem viu.”

 

Abominável terá sido a cena desse abate. À tardinha, pastando entre seus companheiros, o “eleito” levanta a cabeça e arma as orelhas em direção a quem chega. Talvez seja um pouco de ração com sal. É comum tais agrados, principalmente em tempos de pastagens ralas e secas. Mas, dessa vez o dono não veio só. Uma expectativa seguida de curiosidade toma conta do rebanho. “Quem veio nos visitar?...”, parecem indagar-se.

 

Sem o tal tira-gosto, mas com um porrete nas mãos, o dono se aproxima e toca todos para o curral. A expectativa aumenta e um mau pressentimento os apavora: “O que será desta vez?” Já no curral, atropelam-se correndo de um lado para o outro. Ajudado pelo companheiro, o dono abre a porteira e começa liberá-los, controlando a saída. O “escolhido” se apresenta, mas leva uma pequena pancada no focinho. Recua e se esconde no meio dos companheiros, já acometido por uma inesperada diarreia. Agora, mais determinado, adianta-se novamente. Esbarra em duas vaquinhas moleironas e aponta a cabeça diante do vaqueiro em guarda: outra pancada no focinho. “Agora doeu pra valer!”. Volta-se para o fundo do curral enquanto suas arredias companheiras são “convidadas” a sair. De cabeça baixa e fechando freneticamente os olhos diante do algoz, elas empreendem um trote ligeiro até alcançar o pasto, onde se reúne o grupo amedrontado. A porteira se fecha. Lá dentro, em pânico, impacienta-se o “escolhido”.

 

FILIPE

 

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PAINEL DA FOLHA

por feldades, em 04.09.15

PAINEL DO LEITOR DA FOLHA DE S. PAULO

 (texto integral)

 

26/08 
Em relação à carta do leitor Alessandro Alves de Souza (Painel do Leitor, 25/8), a Secretaria da Educação do Estado esclarece que valorizar a educação é prioridade. Hoje, 98,7% dos alunos com sete anos já sabem ler e escrever, um ano a menos do que a meta nacional. Índices como o Idesp mostram avanços em todos os ciclos de ensino. Nos Anos Iniciais, o crescimento é de 20,2% na comparação entre 2010 e 2014. A política de valorização ainda garante aos docentes oportunidade de evolução funcional como a valorização pelo mérito, que permite reajustes anuais de 10,5% e pagamento de bônus por desempenho.
Valéria Nani, assessora de imprensa da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo (São Paulo, SP)

 

28/08
Não é verdadeira a informação dada por Valéria Nani, da Secretaria de Educação de São Paulo, de que os professores paulistas têm "reajuste anual, por mérito, de 10,5%". A prova, que dá acesso a tal promoção, é trianual e essa promoção atende a um número exíguo de docentes. Isso devido a critérios cada vez mais excludentes impostos pela pasta.

Felipe de Moura Lima, professor (Amparo, SP)

 

30/08
Em relação à carta do leitor Felipe de Moura Lima (Painel do leitor, 28/8), a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo esclarece que a prova de Valorização pelo Mérito possibilita, além de um aumento salarial, um crescimento na carreira dos professores. Feito anualmente, o exame possibilita aumento de 10,5%, concedido aos profissionais aprovados, dentro dos critérios amplamente divulgados. Somente nesta edição, mais de 73 mil docentes da rede estadual farão a prova.

Valéria Nani, assessora de imprensa da Secretaria da Educação do Estado (São Paulo, SP)

 

31/08
A assessora da Secretaria Estadual da Educação, Valéria Nani, continua desinformando (Painel do Leitor, 30/8). As provas de promoção por mérito são anuais, mas os professores que a fazem com êxito têm de cumprir interstício de três longos anos para um novo certame. Ainda: "critérios amplamente divulgados" não significam necessariamente critérios justos.

Felipe De Moura Lima, professor da rede estadual (Amparo, SP)

 

                                      

*****

 

O leitor deste blog, se é que ainda o tenho, tire suas conclusões. Se o governo do estado de São Paulo, através dos gestores da Secretaria da Educação, mente desavergonhadamente sobre coisa tão banal como evolução funcional, o que dizer de algo mais complexo como verbas, contratos etc. etc. etc.? O pior nessa bagaça é a crise de representatividade. A Folha de S. Paulo publica provocação aos professores, de uma ‘assessora’ do PSDB, e não aparece um líder sindical para replicá-la?! É claro que o PT está irrecuperavelmente bichado, e a CUT sem norte nem leste, mas o sindicato deveria ser mais aguerrido.

 

Não é à toa que Geraldo Alckmin está cada vez mais pimpão na mídia. Sem Pedra de Tropeço, ele faz e fala o que quer. Durante a mais longa greve na educação paulista, naqueles já distantes meses de março, abril e maio, Alckmin dizia que somente em julho é que negociaria. Julho passou, atravessamos agosto, estamos em setembro e nada. Novidadeira mesmo só sua afirmação, também não rebatida, de que “o PT é uma praga que deve ser exterminada”. Coisas do gênero podem ser ditas no boteco – entre um conhaque, um torresmo e uma cachaça – pelos ébrios. Mas nunca por quem se diz democrata e tem fumos de estadista. Não é, seu Geraldo?

 

FILIPE

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