Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]


PRECISO FALAR DE LULA

por feldades, em 16.02.19

“Lula é sempre um risco para os plantonistas do Planalto.  Daí as reiteradas condenações ao degredo, ao ostracismo, ao alijamento da cena política.”

 

Enviei a mensagem acima, sem esperança de que a Folha de S. Paulo a publicasse. Publicou. Na edição de sexta-feira passada, estava lá, no alto da página, abrindo a seção de correspondência do Painel do Leitor, seguida de outras três ou quatro mensagens com a mesma impressão: Lula é um injustiçado.

 

A cada condenação do ex-presidente, um engulho me toma de assalto. É certo que até há pouco tempo, eu o tinha por culpado. Mas com o desanuviar dessa paisagem macabra, passei a pensá-lo inocente. Então, para mim, Lula é inocente; criminosos são seus algozes. E essas sucessivas condenações são planejadas para afastá-lo para sempre do cenário político – assim acredito.

 

Desde que o juiz de Curitiba atropelou as instituições no afã de condenar Lula, conduzindo-o coercitivamente, varejando sua residência e humilhando a ele e a seus familiares, já estava claro que havia cálculo político. Mais tarde, esse magistrado deixa o cargo para ser ministro. Defensor da liberação de armas, ele se encontrou ‘privadamente’ com representante da Taurus para falar ‘amenidades’, é claro.  E essa mesma Taurus – que vendeu milhares de pistolas com defeito para as polícias militares, e teve que recolhê-las porque muitas disparavam sozinhas – deverá encher as burras, armando a população.

 

A mesma pressa que aquele ex-juiz tinha para apurar, julgar e condenar petistas e afins não existe em casos mais assombrosos. O ‘Temerário’ (alguém se lembra dele?) saiu do Planalto na ‘maciota’ sem ser incomodado; um senador por SP tem na ‘cacunda’ a suspeita de desvios eleitorais de 23 milhões de reais, mas continua ‘de boa’; segundo a noticiosa UOL, a gatunagem nos últimos quatro anos em SP poderá ser responsável pelo desvio de 1,3 bilhão de reais do Rodoanel; somente no trecho norte dessa obra, o rombo é de 625 milhões, conforme denúncia protocolada no MP.  E tem mais. Tem o ex-senador mineiro, aquele do ‘aeroporto’ e de “depois a gente mata”, com sua “Cidade Administrativa" em BH; tem o senador, filho do ‘bozo-bufão’; tem milicianos, foragidos, acobertados e...  tem o Queiroz!

 

Mas o ancião Lula, com mais de setenta anos, tem que ficar trancado numa cela, porque solto Lula é sempre um “risco”. É, estamos nas trevas mesmo... Ô peste!

 

PS.: Aos poucos leitores – se me restam alguns (pelo menos um amigo, que foi leitor assíduo, me abandonou) – confesso que não me apetece escrever sobre política. Gosto mesmo é das reminiscências, dos recortes já desbotados de minha rica infância, vivida na pobreza. Mas era preciso falar de Lula.

 

FILIPE

Autoria e outros dados (tags, etc)

COCÔ PARRUDO

por feldades, em 01.02.19

Alto, corpulento e ostentando farto bigode preto, aquele primeiro-tenente do Exército deveria fazer tanto sucesso entre as mulheres, como talvez faça o Kim ‘pançudo’ da Coreia do Norte. Contudo, apesar de formado na conceituada academia das Agulhas Negras, nosso protagonista não tinha prestígio entre seus subordinados. Com sonoras gargalhadas, soldados e cabos mofavam da ignorância daquele oficial com tanto entusiasmo, que lhe deram por alcunha a enigmática sigla ‘CP’. De minha parte, confesso ser inocente nesse e em outros ‘crimes’ da farda, mas quando o assunto era “CP”, eu ficava sempre à espreita e me deliciava com as estórias envolvendo aquele homem.

 

Talvez o raro leitor não saiba, mas o contingente de um quartel é dividido em ‘castas’ – para desculpas da hierarquia. No topo, há os oficiais (tenentes, capitães etc.); depois os graduados (sargentos e subtenentes); por fim, a ralé (cabos e soldados). O cidadão civil, denominado ‘paisano’ no jargão militar, era sempre visto com desconfiança naquele meio. As maliciosas línguas sempre diziam que “paisano em quartel é mulher de soldado”.

 

Pelo menos no tempo em que servi, os oficiais dificilmente chamavam alguém da ‘casta inferior’ pelo nome. Era comum, no pavilhão superior do prédio, um oficial debruçar-se sobre a balaustrada à espera de um soldado de passagem pelo pátio. À primeira “vítima”, bradava: “Oooooô... Soldado!”. Muitas vezes eu ouvia e me fingia de surdo, escapando apressado dali. Saía da mira do cara e vazava para o alojamento, ou garagem, ou rancho, ou não-sei-pra-onde, fugindo de enfadonhas tarefas.

 

Certa vez, houve um temporal e o aguaceiro inundou várias repartições do quartel. O CP era um dos homens encarregados de avaliar o estrago e encaminhar soluções. Dirigiu-se a mim, sem citar meu nome, é claro, e me conduziu ao paiol – onde se guardam munições e explosivos. Estava tudo alagado, um caos. E aí, o CP cofiou o bigode, sem saber o que fazer, e lascou esta: “Essa chuva foi com ‘xis’ maiúsculo!”, disse em carregado ‘carioquês’. Essa foi apenas uma constatação que justificou a maledicência dando conta de que o CP não passara no exame de ingresso à academia, mas que o diretor da instituição arrumou um jeito para ele entrar, não se sabe como. Sabe-se, porém, que o diretor era um coronel, e que esse coronel, por coincidência, era o pai do CP. Só isso.

 

Tempos depois, o CP, já há muito desconfiado, interpelou alguém, querendo que lhe explicasse o significado de ‘CP’. Por sorte havia um cabo cujo nome salvou o soldado. “Tenente, ‘CP’ é o cabo Prudente. O senhor não sabia?”

 

Nem sei por que escrevi esta crônica. Ou sei: talvez seja porque temos na Presidência um contemporâneo e colega de academia do PC. Tudo a ver com o título.

 

FILIPE

Autoria e outros dados (tags, etc)


Mais sobre mim

foto do autor


Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.


Arquivo

  1. 2024
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2023
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2022
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2021
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2020
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2019
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2018
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2017
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2016
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2015
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D
  131. 2014
  132. J
  133. F
  134. M
  135. A
  136. M
  137. J
  138. J
  139. A
  140. S
  141. O
  142. N
  143. D