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JEFTÉ NO WHATSAPP

por feldades, em 28.08.21

Dia desses houve uma discussão bastante acalorada no grupo de whatsapp de minha família. Ah, é preciso destacar uma coisa: o “Irmãos Moura Lima” tem onze membros, o que faz desse grupo um gigante do gênero “irmãos”. Como em qualquer grupo, no nosso há aqueles que publicam industrialmente, há quem pouco aparece e há quem tenta falar e nunca é ouvido. Acho que estou nesta última categoria, porque ninguém dá bola para as minhas mensagens.

 

Dessa vez, a fervura se deu devido a uma provocação que fiz. O texto bíblico do dia era sobre um personagem emblemático do Antigo Testamento: Jefté.  Lendo aquela passagem bíblica, fiquei confuso: “Como pode um sujeito fazer um pacto com Deus para destruir uma comunidade inteira, no caso a dos amonitas...”

 

Segundo a Bíblia, Jefté teria sido abençoado por Deus para vencer os amonitas, mas sob a promessa de oferecer em sacrifício a primeira pessoa da qual se acercasse na volta para casa após seu triunfo. Aconteceu que, vitorioso, ele volta para casa todo pimpão, cheio de novidades para contar à sua esposa, servos, sobrinhos, cunhados... (ah, ele devia ter ao menos um cunhado, senão essa história não ficaria boa). O problema é que, chegando à casa, nem sobrinho, servo ou cunhado quis saber de Jefté. Quem partiu a seu encontro, assim que ele foi visto ainda lá no morro, antes de abrir a porteira, foi sua filha. O homem estremeceu, porque teria que cumprir a promessa, e, nesse caso, sacrificaria sua única filha. A história é mais ou menos essa e se alguém quiser detalhes, veja lá na Bíblia; está no ‘Livro dos Juízes’.

 

Aqui, no entanto, quero escrever sobre meu “perrengue” com a família, porque eu quis dar uma de esperto no grupo ‘Irmãos Moura Lima’, fazendo uma postagem, e me dei mal. “Quero que alguém me explique a passagem bíblica de hoje, pois está escrito que Jetfé [sic] devastou 20 aldeias em nome de Deus”, provoquei e ajuntei: “E vou cobrar isso!”

 

Já acostumado ao conforto do abandono – ninguém se importa com o que digo nem com meu silêncio –, dessa vez foi diferente. Um irmão me deu um pequeno chacoalhão; depois outro entrou um pouco mais firme: “Você está interpretando com a cabeça de hoje algo que foi escrito há mais de dois mil e quinhentos anos!”. Eu ainda tentava me equilibrar após essa “canelada”, quando veio um disparo mais forte de outro irmão: “Você parece ter preguicite de ler: pega o trecho de um texto e já quer tirar conclusões. Vá à fonte e leia o texto inteiro!”

 

É... apanhei e, em vão, tentei argumentar. Mas aprendi alguma coisa. Aprendi que Jefté não era um “miliciano tosco e covarde” como alguns por aí. Aprendi também que os amonitas não eram uns “anjinhos azuis” como eu supunha, e sim um povo cruel, fruto de uma relação incestuosa de Ló com suas filhas.

 

Finalmente, aprendi que o Antigo Testamento deve ser lido de forma muito cuidadosa, porque ele não é um livro de fábulas.

 

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"ONDE VOU USAR ISSO?"

por feldades, em 14.08.21

A pergunta que dá título a esta crônica é recorrente em sala de aula. Os “especialistas em educação” amam-na e costumam usá-la para afrontar professores em palestras para lá de enfadonhas.

 

De volta às aulas presenciais, com a temível ‘variante delta’ no nosso encalço, temos que driblar a situação para evitar a contaminação. Num ambiente bastante precário, muitos alunos não parecem se preocupar com os riscos e se aglomeram. É preciso, a todo momento, pedir que se distanciem, que coloquem a máscara, que ponham a máscara corretamente, e que o nariz, ainda que belo, deve estar coberto...  Um saco!

 

No meu caso, não bastasse a extrema preocupação com os “bons modos sanitários”, ainda preciso lidar com a fatídica pergunta: “Professor, onde vou usar isso que você está ensinando?” Pela enésima vez, tive que ouvir isso anteontem. Respirei fundo e não respondi de imediato. Naquele momento, lembrei de meu tempo na graduação e de uma aula de álgebra. Sem entender o conteúdo, eu me dirigi ao professor e perguntei muito discretamente onde usaríamos aquilo que era ensinado.  “Primeiro você aprende isso, depois pergunte para que serve”, respondeu secamente o mestre. Aprendi o suficiente para ser aprovado e nunca mais quis perguntar para que serve aquilo, mas imagino (sem ironia) que este teclado que estou usando agora não funcionaria sem recursos de álgebra avançada.

 

De volta ao aluno, que aguardava uma resposta, perguntei: “O que você pretende fazer na vida, qual profissão quer ter?” O rapazinho gaguejou: “Ah, acho que vou fazer mecatrônica.” “Então, para entrar num curso de mecatrônica, você precisa saber isso.” Mas o rapaz foi além: “Não, eu falo na profissão mesmo. Onde um arquiteto, por exemplo, vai usar o que você está ensinando?” Fiquei enrolado, mas não fugi da arena, e provoquei: “Você já conversou com um arquiteto? Ele faz projetos e provavelmente terá que dominar vários conteúdos. Converse com um arquiteto...”.

 

Como diria meu pai, eu já estava ‘entojado’ com o aluno e acabei perdendo o equilíbrio. “Quer saber? A escola tem o compromisso de transmitir conhecimentos às gerações, muitos deles milenares. E tem mais. Penso que o conhecimento, a reflexão e o questionamento são indispensáveis para que o ser humano se complete. Doutra forma, seríamos como um boizinho, que apenas precisa comer, fazer cocô e dormir.

 

Passados uns minutos, fui à carteira do aluno e ele me disse quase em segredo: “Não consigo entender nada disso aqui. Minha cabeça é dura, sou burro!” Fiquei compadecido. Peguei o caderno dele e passei uns probleminhas mais práticos, envolvendo compra, pagamento e troco. Fiquei impressionado com o moleque. No texto, onde eu escrevi ‘400 gramas de mortadela’, ele interpretou como ‘40 por cento de um quilo’; onde estava ‘650 gramas de queijo’ ele dizia ser ‘65 por cento de um quilo’. E assim, interpretou o problema e fez as contas corretamente. Hoje ele me disse que pesquisou sobre a tal ‘mecatrônica’ e descobriu que teria de aprender muita coisa parecida com o que estava sendo ensinado e..., pasme!, ele me pediu aulas extras!

 

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