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O tempo passa e eu não tenho o que pôr neste blog. Sei que isso é uma bobagem e não faz sentido ficar preocupado com banalidades, mas um amigo já perguntou sobre o “menu” de hoje.
Enquanto grupos radicais islâmicos esfolam curdos e xiitas no Iraque, sequestram centenas de meninas na Nigéria e crucificam cristãos na Síria, eu fico aqui torrando os neurônios, tentando o ofício de cronista que jamais sou ou serei. Ainda: o ebola, a Peste Negra deste milênio, se alastra na África e semeia pânico pelo mundo, mas eu continuo bobamente olhando para o teclado, preocupado em buscar a quadratura do círculo.
Eu deveria me despedir desses poucos que me acompanham, deixá-los em paz e me afastar para sempre daqui, mas parece que ando interessado na atenção deles. Uma carência tola, sem sentido, pois não há a certeza de se estar acompanhado num espaço como este, que, pela sua natureza, apela para a solidão.
Fosse noutro tempo, eu não precisaria tergiversar, pois havia no computador meia dúzia de inglórios escritos à espera de seus minutos de glória. Mas a má sorte bateu à porta, ou melhor, arrombou-a trazendo consigo um gatuno. A Pituka, cadelinha simpática até com esses noias, permitiu que se adentrasse e levasse o notebook, que nem era note, mas net. Com ele, foram alguns delírios e fragmentos de minha memória na forma de textos. Sorte teve o raríssimo leitor, porque fora poupado, mas eu fiquei meio leso e sem saber o que pôr aqui hoje.
Havia por lá breves relatos sobre minha infância vivida na escola primária, e do tempo de adolescente, quando ensaiava minhas primeiras incursões amorosas – coisa boba, mas muito minha. Havia também muitas fotos, alguns pequenos filmes da família, vídeos com minha mãe.
Para a última postagem, não encontrei dificuldade, pois o assunto brotava para além do teclado. Estava em toda parte, como se fosse pedra de tropeço por onde quer que eu andasse. Não poderia e nem havia como ignorar os acontecimentos que pululavam. Mas agora veio a ressaca.
Daqui, donde estou, olho para a Pituka e o Tokinho, que cochilam tranquilos aos meus pés, deixando-me ainda mais “desinspirado”. Por que não fazer o mesmo? Por que não deixar a arte de escrever para quem tem o dom? “Tem que ter o dão, o dão!”, já me foi dito.
Ah, se eu tivesse o dom, se soubesse escrever, descreveria cenas de um passado distante e esfumaçado, mas que continuam cintilantes como a estrela-d’alva numa manhã enevoada. Mas não consigo. Apenas tento, mas me distraio com a Pituka e o Tokinho, que continuam sonhando com a doce “matilha de totós alados” – os anjos que o Criador lhes oferece como protetores.
Ah, se eu soubesse escrever e se o Tokinho não estivesse por aqui com a Pituka a me fazer inveja! Eu falaria da primavera e de suas flores; dos amores e de suas dores; da solidão tão necessária, e de mim.
De mim?! Esta besta que se ocupa do teclado, mas que precisa corrigir provas, preparar aulas, elaborar atividades..., que ninguém faz.
E a África continua lá, esquecida e devorada pelos mesmos vermes: de ontem, de hoje e de sempre.
FILIPE