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FIM DE UM CICLO

por feldades, em 18.12.22

Enfim, sem pesar, encerro meus dias como professor. Digo sem ‘pesar’ e sem ‘pesar’ – seja esse ‘pesar’ verbo ou substantivo. Explico.

 

Dia desses, na sala dos professores –  que não é bem uma sala, mas um palco, e essa parte vai sem explicação –, eu disse aos colegas que ali estavam: “Estou saindo sem pesar com ‘s’ e sem pesar com ‘z’. ‘Pesar’ no sentido de ‘medir’ os prós e os contras, e ‘pezar’ no sentido de lamento ou tristeza”.

 

Mal acabara de dizer essas palavras, pude perceber que uns pares de olhos me fitavam aflitos. Sem entender o porquê, supus que fosse devido à homofonia das palavras que usei com pretensa criatividade, mas não. Bem depois pude perceber que toda aquela perplexidade foi causada por minha ignorância vocabular. Não existe PEZAR no vocabulário oficial da língua portuguesa. Existe, sim, PESAR, seja verbo ou substantivo e com significados bem distintos.

 

Essa não foi a única deslizada deste professor perante os pares. Ainda há pouco tempo, fazendo chacota do novo ‘programa de escola em tempo integral’, que tem PEI como sigla, perguntei aos colegas se  “PEI dá certo”, provocando, claro, muitas gargalhadas. Sobre a ‘cacofonia’ na junção dessas palavras, eu lasquei um tonitruante “cacófono”. Nisso, uma professora interveio elegantemente, dizendo: “Não seria cacófato?...” “Ah, é cacófato?! Eu pensava que fosse ‘cacófono’, porque vem de ‘cacofonia’, e olhe que sempre falei assim...”, respondi timidamente, agora sem nenhuma vontade de dar risada.

 

Deslizes à parte, e eles me são infinitos, quero dizer que meu ciclo de vida na docência se encerra com este ano letivo. Foram 31 anos completos em sala de aula. Nesse período, convivi com milhares de alunos, centenas de professores e dezenas de gestores. Minha relação com eles foi razoável e de (quase) todos tenho excelentes lembranças. E posso assegurar que eu não teria sido tão feliz e realizado em outra profissão. Isso por que, como docente, eu pude expressar em sala de aula e nas inúmeras reuniões com colegas e gestores absolutamente tudo o que penso e acredito. É claro que minhas opiniões não foram as mais acertadas e muito menos as mais aceitas, e com um custo razoavelmente alto, resultando ao longo e ao final dessa trajetória alguns estranhamentos e rupturas. Episódios esses dos quais sequer me orgulho, embora também não os lamente.

 

Então, é chegada a hora de parar porque envelheci e perdi as condições de fazer um bom trabalho conforme atesta esta crônica. Sala de aula é para quem tem juventude, saúde e sonhos. Tenho saúde, mas perdi a juventude e parei de sonhar. Não acredito no tão propalado “novo ensino médio” que está sendo implementado nem nas novas concepções pedagógicas. Sempre vi o professor como protagonista do trabalho pedagógico e acredito ser ele um operário do pensamento e da palavra. Porque sem essas prerrogativas e sem liberdade, o trabalho docente será um fracasso retumbante.

 

Finalizo com uma mensagem (ou mantra) a todos que trabalham na educação: “Um professor intimidado e amordaçado jamais poderá formar cidadãos críticos e competentes!”

 

FILIPE

 

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5 comentários

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De Andréa Piffer a 18.12.2022 às 18:11

Brilhante! Eu reverencio a você! Pelo o que você foi, pelo o que você é e pelo o que ainda será! Com sonhos ou sem sonhos, você se dá o direito de ser, pensar e falar o que quer, claro sempre respeitando seus valores e ideais, dignos de um filho de um cristão, que assim também o é. Eu sou fruto e beneficiária do seu trabalho, e sua amiga, porque você permite que assim seja. Parabéns professor!
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De feldades a 19.12.2022 às 02:05

Obrigado, Andréa, pelo carinho, que é recíproco.
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De Frei Gabriel a 19.12.2022 às 16:56

Olá Mano
Paz e bem!
Fim de um ciclo, é forte!
Soa como fim de linha.
Mas não o é!
É conclusão de um ,entre tantos processos que constituem a vida.
Um processo se fecha na mesma medida que outro se inicia.
Que você comece bem esse novo ciclo.
E por favor, não pare de sonhar.
Não é porque algum sonho se tornou pesadelo que somos condenados a rejeitar o desejo de sonhar.
Só quem sonha vive! Sonhos de vida que se renova, como as árvores antigas que soltam as velhas cascas para se revestirem de roupas novas, sem nunca perderem a essência!
Você sempre será professor, talvez agora mais do que antes!
Lembre-se de nosso velho Pai que lecionou só por 5 anos, mas foi eterno docente da sabedoria!
Parabéns!
Deus o faça muito feliz!
De um mano que muito aprende consigo.
Freizinho
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De feldades a 19.12.2022 às 22:02

Olá, Freizinho. Encerra-se um ciclo e abre-se outro. Agora é preciso sonhar outros sonhos. Obrigado pela participação no blog.
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De Miguel Lucas a 25.12.2022 às 18:35

Gracas a Deus não vai parar de escrever.
Um grande abraço, com votos de um Santo Natal e um feliz 2023.

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