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NA CASA DA MÃE PRETA

por feldades, em 12.02.23

WhatsApp Image 2023-02-06 at 10.42.29.jpeg

Tenho diante de mim, na mesa de lazer, que já foi mesa de trabalho, uma pequenina Virgem – que é miniatura da imagem encontrada nas águas do rio Paraíba no início do século 18. A imagem da ‘Senhora Aparecida’, preta e nua de paramentos, é muito mais autêntica e bela do que aquela azul, coberta de brocados e coroa de ouro, como todos conhecemos.

 

Adquiri essa imagem uma semana atrás, quando estive em Aparecida a fim de cumprir um voto antigo: entregar minha longa jornada de trabalho.  Antes de entrar no magistério, fui comerciário, operário, lavrador e biscateiro. Foram mais de cinquenta anos mourejando num trabalho intenso, penoso e mal remunerado para, finalmente, conseguir a aposentadoria.

 

Com uma vida tão sofrida, a cada embaraço que surgia, um desânimo me tombava e eu me fechava cético. Com a maturidade, porém, entrei numa fase mais transcendental. Quando as coisas apertavam, eu buscava amparo nas preces, e assim fui rompendo barreiras e transpondo obstáculos. Não sei se “combati o bom combate e guardei a fé” como fez Paulo, o apóstolo, mas com muita certeza houve combates, e com pouca certeza houve fé.  Mas preciso falar sobre minha viagem à Aparecida.

 

Essa foi a terceira vez que estive naquelas terras. Na primeira vez eu estava me despedindo da adolescência; na segunda vez eu entrava na maturidade; e nesta terceira vez já sou debutante da “terceirona”.

 

O Santuário de Aparecida é um templo a céu aberto. Onde quer que se vá veem-se ícones religiosos e monitores transmitindo rezas, missas etc. Tudo lá é grandioso e belo. As monumentais fachadas com seus mosaicos são uma atração à parte. Mas aquela cidade não é para muitos. Explico.

 

Quando se fala em “devotos de Nossa Senhora”, sempre penso nas pessoas mais simples, pobres mesmo. Mas no Santuário não há espaço para esses. Tudo lá é muito caro e parece que foi feito apenas para rico (ou para pobre sem juízo). Como não sou rico e tenho juízo, sou excluído de tudo aquilo. Continuo.

 

No subsolo do Santuário há a ‘Casa do Pão’, que é administrada pelos redentoristas (eu sei porque perguntei). Pensei: ali vou poder matar minha fome. Padres são bonzinhos e têm compaixão dos devotos. Peguei uma fila na qual fiquei mais de uma hora. Que decepção!

 

Aqui vai um conselho. Quem tem pouco dinheiro, fuja da ‘Casa do Pão’. Lá, o pobre que chega com o estômago vazio, tem que vender as tripas para fazer o desjejum. Um cafezinho, que vem num copo de plástico, mais um biscoito frito, bregamente chamado de ‘donat’, não saem por menos de quinze reais. E não adianta procurar pão com manteiga na ‘Casa do Pão’ porque você não vai achar. Hotéis, restaurantes... esqueça! Se você levar de casa uma marmita e um saco de dormir, talvez seja uma alternativa.

 

Pretendo voltar a Aparecida, não como peregrino, mas como turista. Em casa eu rezo e faço penitência; em Aparecida posso rezar, mas quero mesmo é apreciar os tesouros arquitetônicos – e sem muita penitência.

 

E por falar em oração, pergunto: por que num santuário mariano, onde as mulheres deveriam ser protagonistas, a “Consagração a Nossa Senhora” é sempre feita por homens? Se alguém puder responder, eu agradeço.

 

FILIPE

 

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9 comentários

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De Andréa Aparecida Piffer a 12.02.2023 às 14:46

Gostei! A primeira parte do texto estava tão poética, mas você que é uma pessoa que se preocupa com o próximo e sempre tem uma intenção no que escreve, deixou-me a pensar. Sempre fui a Aparecida do Norte, desde criança, minha mãezinha me deu o nome da mãe Aparecida. Já fui vestidade de anjo para pagar promessa da minha mãe, já fui de carro e de excursão. Levávamos garrafa térmica com café e leite e minha mãe passa o dia anterior à viagem fritando bolinho de batata para levar. Isso em 1980 é poucos. Faz anos que não vou.
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De Anónimo a 13.02.2023 às 22:56

Sua mãe era esperta. Eu deveria aprender com ela.
Obrigado pela leitura e pelo comentário, Andréa.
Um abraço!
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De Eduardo Lima a 13.02.2023 às 23:19

Como vc consegue ter tanta fé assim? Mesmo assim é questionador?
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De feldades a 14.02.2023 às 02:01

A fé deve nos inquietar. Estou inquieto.
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De Frei Gabriel a 14.02.2023 às 01:26

Olá Felipe!
Paz e bem!
Seu texto, como sempre, uma beleza para ler. Mas dá um frio na barriga dos Padres, como no meu caso. Eu estive em Aparecida somente duas vezes mas não vou comentar minhas experiências sobre estar lá.
Muitos, indo a Aparecida vivem uma verdadeira experiência de fé. Mas infelizmente também são muitos os que por lá andam apenas para matar a curiosidade e fazer um passeio diferente. Nunca tinha imaginado que as coisas por lá fossem tão caras. Realmente é preocupante, pior é escandaloso: uma Igreja que nasceu de um Pobre Nazareno, cercado de pobres Galileus, acompanhado por uma multidão de pobres tem mais do que a obrigação de ser um espaço para os mais pobres. Fico triste com esta informação, mas também me alegro porque você foi mais do que poético: você foi Profético!
Muito obrigado!
Que a Mãe Preta interceda por seus filhos mais pobres que passam fome!
Paz e bem!
Seu mano: freizinho
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De feldades a 14.02.2023 às 02:11

Não me oponho à existência de espaços glamurosos no Santuário, mas lamento que não haja um restaurante popular que atenda aos peregrinos de "pés descalços".
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De Anónimo a 15.02.2023 às 13:00

Sim, Mano! Por aí! Para a hospedagem glamourosa já tem o Hotel Padroeira do Brasil... acho que é esse o nome...
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De feldades a 16.02.2023 às 01:26

Deve ser isso mesmo. Mas não é para o bolso de um casal como aquele de Nazaré, também conhecido como José e Maria.
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De Aureliano a 19.02.2023 às 13:21

Pois é, Felipe, vivemos tempos difíceis! A compreensão e vivência do Evangelho, daquilo que Jesus desejou mesmo transmitir, nem sempre é tarefa fácil.
O empenho em sermos sal e luz deve continuar. Mas a ambição, a ganância, a sede de poder e de ter insistem em fazer morada dentro de nós.
Sua observação parece proceder. Talvez reste saber qual a relação entre custo e benefício. Em outras palavras: qual a margem de lucro os donos do restaurante estão colocando. A tendência e tentação é explorar. À semelhança dos bilionários que se multiplicaram no Brasil durante a pandemia. Num momento em que a classe baixa e média/baixa afundava, a classe alta se enriquecia. São as contradições da história que se refletem dentro de nossas igrejas. Um golpe baixo no Evangelho de Jesus.

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