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É, Andréa, esse irmão é mesmo muito especial pra t...
Belíssima crônica Felipe!!!Lendo me leletrasportei...
Linda homenagem! Tão familiar, caseira, sincera e ...
Publicado originalmente em 16/12/2011 - blogdofilipemoura
A tarde escorria insuportavelmente quente e preguiçosa. Interrompi uma leitura e vagueei pelo prédio nu, desprovido de sua matéria prima: os alunos. Lá fora, um pequeno grupo se formava em torno de um homem traído por sua moto, que lhe deu uma rasteira e o estatelou no chão – felizmente não se ferindo. Houve certa agitação, alguém ligando para os Bombeiros, ou para a Guarda etc. Passados alguns minutos e já resolvido o problema do desafortunado motoqueiro, saí para observar as coisas e “investigar os seus porquês”. Um colega estava parando os motoristas, a fim de alertá-los quanto ao óleo derramado no “leito carroçável” ou “pista de rolamento” – conforme dizem as autoridades –, mas para nós, os comuns, é rua mesmo. Ou chão da rua, para ser exato.
Compadeci-me do amigo. Estava vermelho e sua “laje”, luzidia e descoberta, parecia estorricada pela inclemência do sol. Quis ajudá-lo, alternando com ele. Ora ele orientava, ora eu. Porém, eu não conseguia fazer com que os motoristas me obedecessem. O amigo ria da situação, afirmando: “A gente só quer ajudar e os caras nem reconhecem...” Na verdade, os motoristas lhe obedeciam e até agradeciam. Mas a mim...
Resolvi improvisar. Fui à escola, peguei uma cartolina e escrevi com tinta forte e em letras gigantes: “ÓLEO NA PISTA”. Fixei-a numa régua de madeira e, como aqueles caras da Fórmula 1, exerci minha função cidadã, fazendo valer “minha autoridade”. Motoqueiros, ônibus, caminhões e até bicicletas eram interceptados com aquela bandeira a poucos metros da fuça. Não havia quem não me obedecesse. Todos paravam, liam e ouviam minhas explicações. Depois seguiam cuidadosos e agradecidos, esquivando-se daquele tapete escorregadio.
Passadas quase duas horas, os “homens” chegaram. Estacionaram a viatura na única sombra que nos protegia e, do alto de sua importância e sem nos dar atenção, operavam o rádio, falando com gente ainda mais importante. Somente na terceira tentativa é que consegui falar com aquele que parecia ser o chefe. Sob a minha sugestão para que interditassem logo a rua ou removessem o tal óleo, respondeu: “Isso é coisa simples, não causa problema...” Argumentei que houve dois problemas: o tal motoqueiro e uma senhora, que escorregara ao atravessar. ”Mas não pode jogar água, porque o óleo aumenta!” “Essa é nova: podemos fazer nosso combustível render, adicionando-lhe água!” , pensei e prossegui: “Mas seu guarda, não é pra jogar água, tem que pôr serragem!” E ele: “Já vem a serragem. O caminhão está na serralheria!” Matutei: “O cara confunde serraria com serralheria, que produz limalha. Talvez essa limalha seja diferente...”
Enquanto eles traçavam seus planos, eu “bandeirava”. Daí a pouco, volta-me o “chefe”: “Você não pode pôr a placa na frente do motorista, pois lhe tira a visão!” “Mas, seu guarda, ele tem que parar mesmo... ele não pode passar em velocidade pelo óleo!” “Não. O senhor fica ao lado, segurando a placa, eles olham e ficam sabendo do óleo.” Entreguei a placa a ele dizendo: “Vou deixar para o senhor.” “Continue o seu serviço!” “Não, senhor, preciso entrar. Se quiser, pode ficar com a bandeira.”
Demiti-me e saí de cena. Espetada num cavalete, fruto de meu estro, a cartolina com letras tremidas avisava: ÓLEO NA PISTA.
FILIPE
É, Andréa, esse irmão é mesmo muito especial pra t...
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