Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]


PASSAREDO

por feldades, em 23.10.21

WhatsApp Image 2021-10-22 at 19.17.47.jpeg

O flagrante acima é de um jacu. Essa ave esbelta e um pouco arredia costuma me dar o agrado de uma breve visita, mas que só acontece de vez em quando. Ela deve ter suas razões, e por isso não gosta de muita prosa comigo. Quando chega, pousa no telhado, olha ao redor, caminha um pouco e pula para o abacateiro, depois voa para a mangueira e de lá segue seu destino para outras e longínquas paragens.

 

Moro numa região bastante arborizada onde há várias espécies de pássaros. Por aqui há sabiás, bem-te-vis, rolinhas, tico-ticos, corruíras, sanhaços, canários-da-terra, tucanos, galos-da-campina, pica-paus, joões-de-barro, maritacas, anuns, colibris, asas-brancas e um sem-número de outros pássaros que não consigo nomear.

 

Nas manhãs de sábado, ando pelo bairro com meu cãozinho Tokinho e vamos ouvindo o passaredo. Outro dia, num desses passeios, notei algo estranho na casa de um vizinho. O homem estava com uma vara comprida – talvez um bambu, ou sei lá o quê. Ele usava aquilo para dar golpes violentos na garagem, onde estava seu carro. De vez em quando ele abaixava e enfiava o bambu por debaixo do carro, levantava novamente e socava o bambu pra lá e pra cá. Quando me viu, parou por um momento, mas voltou ao serviço. Daí a pouco sua mulher chegou, talvez para ajudá-lo ou, quem sabe, fazê-lo desistir daquela difícil empreitada que lhe roubava as forças. E ele bate com o bambu aqui, bate ali, bate lá até quebrá-lo. Nesse momento, quando ele se abaixou para pegar o pedaço do chão é que vi o que acontecia. De súbito, um jacu passou rasante pela sua cabeça e ganhou o bosque lá embaixo. Mas foi por pouco que o homem não o acertou. Furioso, ele ainda conseguiu lançar aquele pedaço de bambu, chegando arrancar uma pena da pobre ave.

 

A última imagem que me ficou daquela cena – que considero “obscena”, é bom ressaltar –  foi a do homem com uma pena preta na mão e olhando na direção do bosque, à procura do jacu – agora feliz e salvo.

 

Durante o inverno, os passarinhos sofrem bastante. Esses pequenos seres vagueiam à procura de alimentos que são bastante escassos. Tento atendê-los com uma pitangueira, duas goiabeiras e três amoreiras. Não posso fazer mais do que isso, mas ajudo um pouco. A vizinhança, porém, não colabora. Dois anos atrás, um vizinho “removeu” árvores que o incomodavam com folhas na calçada. Cortou as árvores para vender o imóvel em seguida. Vai entender... Outro vizinho fez algo semelhante àquele. Cortou dois grandes pés de lichia, que alimentavam inúmeras famílias de maritacas, e vendeu a chácara logo depois.

  

Os pássaros – essas pequenas, frágeis e dóceis criaturas – são tão necessários que, sem eles, em dois anos os insetos nos dominariam, sendo extintos todos os vertebrados não marinhos do planeta. Pelo menos foi o que ouvi há muitos anos no extinto programa Projeto Minerva da rádio MEC.

 

“Vinde a mim as criancinhas, mas também os passarinhos!”, talvez dissesse Cristo no dia de hoje.

 

FILIPE

Autoria e outros dados (tags, etc)


5 comentários

Sem imagem de perfil

Anónimo a 23.10.2021

Eu já vi dar pautadas em ratos e cobrar. Mas, em um pássaro é a primeira vez, embora seja muito comum cortarem as árvores para não "sujar" as calças. Muito triste isso.
Imagem de perfil

feldades a 23.10.2021

Já dei pauladas em ratos e cobras, infelizmente. Hoje, sempre que possível, evito matar bichinhos. Até barata, quando aparece, arrumo um jeito de expulsá-la, sem feri-la.
Sem imagem de perfil

Andréa a 23.10.2021

Kkkkk....estou rindo do meu comentário, como é difícil escrever......pauladas vira pautadas, cobras viram cobrar e, a pior, sujar as calçadas ficou sujar as calças....kkkkk desisto
Imagem de perfil

feldades a 23.10.2021

Gostei do "sujar as calças". Ficou bem de acordo com a atitude daquele malfeitor. rsrsrs
Mas não desista de comentar.
Caso não goste do que escreveu, me fale, que darei um jeito aqui.

Comentar post



Mais sobre mim

foto do autor


Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.


Arquivo

  1. 2025
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2024
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2023
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2022
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2021
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2020
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2019
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2018
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2017
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2016
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D
  131. 2015
  132. J
  133. F
  134. M
  135. A
  136. M
  137. J
  138. J
  139. A
  140. S
  141. O
  142. N
  143. D
  144. 2014
  145. J
  146. F
  147. M
  148. A
  149. M
  150. J
  151. J
  152. A
  153. S
  154. O
  155. N
  156. D