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REPROVADOS EM MATEMÁTICA

por feldades, em 26.02.23

Decidi fazer uma limpeza nos meus armários e separei uma papelada para reciclagem. É um trabalho penoso, porque não gosto de descartar nada. Sempre espero achar tempo para ler aquele jornal ou revista, que há anos me espera pacientemente numa gaveta. E tem os livros... Ah, como dói ter de descartar esses danadinhos! Mas não tenho vaga para os livros didáticos. Ano passado mandei oitenta quilos para a reciclagem (fiquei curioso e pesei!), mas ainda restaram alguns, que estão sendo despedidos, infelizmente.  Mas os demais jamais sairão daqui.

 

Sobre os livros didáticos, eu poderia escrever vários textos falando deles. Companheiros fiéis, os coitados são comumente desprezados. Quando eu lecionava, via chegar caminhão carregado de material escolar, principalmente livros e apostilas. Mas esse material era subutilizado e muitas vezes abandonado por alunos, que sempre o “esqueciam” embaixo das carteiras. A culpa não é toda dos alunos, mas de altos funcionários da Secretaria da Educação, que inventam novas metodologias em detrimento do “arroz com feijão” que são as velhas e boas “cartilhas”.

 

Na faxina que estou fazendo, deparei com um pequeno recorte de jornal, já amarelado, trazendo um texto com o título que abre esta crônica. O artigo escrito por Flavio Comin, professor e pesquisador da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, traz uns dados avassaladores sobre os brasileiros em relação à matemática. No universo de 2.632 pessoas entrevistadas em 25 cidades, todas acima de 25 anos, constatou-se o seguinte: “um terço não consegue fazer operações básicas de multiplicação; 75% não sabem calcular médias simples nem compreendem frações; seis em cada dez não relacionam frações simples do tipo 3/4 a porcentagem nem resolvem problemas simples de regra de três para a confecção de um bolo; sete em cada dez não sabem fazer conta básica envolvendo taxas de juros; a metade não acertou onde há maior risco de erro num tratamento médico: se 1 em 10, 1 em 100 ou 1 em 10.000.”

 

A pesquisa avançou sobre resultados educacionais e verificou que “60% dos entrevistados não gostam de matemática, 65% têm dificuldade com a matéria e mais de 90% dos concluintes do ensino médio não têm conhecimento adequado nessa disciplina”.

 

O texto em questão foi publicado na Folha de S. Paulo em novembro de 2015, anos antes da pandemia que lançou num abismo ainda muito mais profundo toda uma geração.

 

Fico imaginando o Zé Lopes trabalhando de pedreiro e tendo como servente o filho Filipe. A masseira deve ser feita usando nove latas de areia misturadas com uma lata e meia de cimento e um saco de cal hidratada. No fim do dia, o pedreiro diz ao ajudante: “Filipe, agora eu preciso de apenas terça parte da masseira, porque senão vai sobrar massa.” Como o Filipe vai fazer isso, se ele não entende de frações?

 

Ah, tem também a dona Maria, que faz bolo. Para vinte pessoas, ela pega uma receita que usa dois quilos de farinha, meia dúzia de ovos, meio quilo de açúcar e 600 ml de leite. Se dona Maria tiver que fazer um bolo para trinta pessoas, como ela vai se virar?

 

Ah, mas a dona Maria é esperta. Ela entende de proporções e vai fazer tudo certinho. Agora o servente de pedreiro lá em cima... Sei não.

 

FILIPE

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9 comentários

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Andréa Aparecida Piffer a 26.02.2023

Legal 😎
Dia desses uma aluna aborrecida com a minha chegada para a aula, me perguntou: quem inventou a matemática? Querendo achar um culpado para a sua dificuldade. Respondi que ninguém, depois fui além dizendo: Se houver quem inventou, esse criador é Deus, pois os homens apenas descobriram parte de toda matemática existente no nosso universo. Eu posso estar errada, mas acho que se compreederem gostarão ou se gostarem compreenderão, não sei a ordem correta dos fatos.
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feldades a 27.02.2023

Pergunta recorrente em sala de aula. Mas você conseguiu dar uma resposta sábia e convincente. Obrigado pela leitura, Andréa. Um abraço.
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Renato Pires a 26.02.2023

Caro Felipe! Ao ler essa obra-prima, entre tantos pontos que eu poderia refletir, penso no meu propósito do início do ano: estudar matemática.
Os dias passam, vou sendo, pouco a pouco, vencido pelo cansaço e minha existência vai se apequenando. Ainda bem que temos amigos, como faróis a nos iluminar.
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feldades a 27.02.2023

Renato, aqui você não viu nenhuma obra-prima, mas fico agradecido pela sua estimada companhia neste blog. Estude matemática e você vai amar, eu posso garantir. Um abraço.
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Maria Lucia Moreira Bastos a 26.02.2023

Eu estou entre os 60 % que não gosta de matemática, guardei o suficiente para o gasto , proporções de receitas etc... Mas penso que precisa compreender pra gostar . Nos tempos de escola , meu calo no sapato era a bendita matemática !
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feldades a 27.02.2023

Lúcia, só não gosta de matemática quem teve maus professores nas séries iniciais. Não tenho outra explicação para isso. Agradeço a companhia, e aceite meu abraço...
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Cynthia Andrade a 27.02.2023

Meu amigo, estava com saudade de suas crônicas. Não sei se você se deu um tempo ou se foi eu que dei uma bobeada aqui. Matemática é um assunto chato. Estou chegando aos 65 anos e pouco sei dessa matéria. Algarismo romano, nem lembro como é 50. Expressões, geometria, sofri tanto pra aprender e nunca usei. Sei o quanto é valioso o conhecimento dos números na vida. Mas fico cá eu juntando minhas letrinhas que faço melhor. Abraço, amigo!
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feldades a 28.02.2023

Cynthia, quanto tempo... Eu estou sempre aqui, quinzenalmente, pelo menos por enquanto.
Uma pena que a matemática não a tenha seduzido. Mas as suas "letrinhas"... Como gosto de seus textos!
Obrigado pela visita. Um abraço!
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Aureliano a 11.03.2023

Muito bem, Felipe! O Zé Lopes era danadinho. Com o antigo "4° ano primário" costumava botar o sujeito na roda.

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