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Publicado originalmente em 04/10/2013 - no blogdofilipemoura.com
Menina, ainda muito nova, já estava a exibir um pequeno embornal. Como a mãe e as tias, queria ela andar com sua bolsinha. Não havia nada o que pôr naquela sacolinha de pano feito “bolsa de moça”. Talvez algum lápis de cor, um pequeno caderno e uma bonequinha de louça já seriam suficientes como apetrechos iniciais.
O tempo foi passando e a menininha se fez moça. Agora já tinha sua bolsa de verdade, com fivelas prateadas, alça de couro e elegante fecho-éclair. E já tinha também o que pôr nela. Usavam-se, naquele tempo, leite-de-rosas, ruge, pó-de-arroz e o já tradicional batom. Esta bagagem era necessária e suficiente para atender às urgências das moçoilas de então.
O tempo passou mais um pouco. A “bolsa de mocinha casadoira” cresceu e teria que comportar algo bem menos prosaico do que produtos de maquilagem. Uma caixa de Cibalena, Melhoral Infantil, fraldas de algodão, mamadeira e outras exigências de uma criança de colo passaram a compor a bagagem da jovem senhora.
Passados mais alguns anos, já não havia necessidade de levar consigo apetrechos de nenê. Esta já estava crescida, e ela própria portava sua bolsinha para bugigangas semelhantes àquelas descritas lá em cima: batons, cremes, lápis para as pestanas etc. Mas a “bolsa-mãe” continuava ainda fornida. Tinha lá, além das chaves da casa, os antigos produtos de beleza, um livro de rezas e uma capanga bem recheada de notas e moedas. Também um lenço estava sempre ali, além de alguns comprimidos para pressão ou outros incipientes males da idade.
Outros anos se passaram e a “bolsa-mãe” tornou-se “bolsa-avó”. Já não exibia o recheio dos gloriosos tempos. A antiga capanga já estava desfolhada de suas cédulas, restando-lhe apenas umas moedas. Um batom com a tampa quebrada ainda poderia ser encontrado dentro de um de seus bolsos com o fecho travado na metade. Além destes, havia a chave da casa e só. A bolsa estava bem murcha, como murcham os ânimos e vontades de quem envelhece.
Mais alguns anos se passaram e a bolsa ficara vazia. Como na primeira experiência da menininha de três quartos de século atrás, a bolsa conteria o nada, ou quase. Nela não havia mais a chave, nem o batom... Havia apenas um lenço.
Por fim, já não há mais bolsa.
FILIPE
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