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AS MANGUEIRAS DE MINHA INFÂNCIA

por feldades, em 27.06.14

Sob duas frondosas mangueiras, na casa de meus avós maternos, passei o melhor de minha infância. Havia por lá também pitangueira, castanheira, laranjeiras, jaqueira e até um sabugueiro, que nunca apresentou seus frutos. A árvore maior, um centenário e corpulento pé de manga espada, que ainda existe (?), era por todos o mais respeitado e também o mais assediado; enquanto seu “colega”, o pé de manga sapatinha, era desprezado – menos por mim. Seus frutos, embora mais abundantes do que os do vizinho “espadachim”, eram cheios de fiapos. “Muito fiapenta!”, reclamava alguém sempre que os experimentava. Eu, como a maioria dos esfomeados meninos da roça, fartava-me com as doces e suculentas mangas sapatinhas. Já os moleques grandões, mais espertos e ambiciosos, subiam na árvore e pegavam as primeiras e cobiçadíssimas mangas espadas. Estas, por alguma razão que somente as mangueiras sabem, sempre retardam o amadurecimento.

 

A jaqueira ficava num morro, não muito distante da casa. Segundo os entendidos tratava-se de jaca-boi devido à enormidade de seus frutos. De vez em quando, uma gigante daquelas era colhida e levada para casa. Posto na mesa da cozinha da vovó, aquele colosso era desventrado e de suas entranhas extraíam-se as bagas. Aquelas gordas “bananas” eram gostosamente devoradas pelas crianças – que naquele tempo eram tão abundantes quanto as frutas.

 

Logo à direita da estradinha de acesso à casa dos avós havia também duas majestosas palmeiras que teriam sido plantadas ainda nos “oitocentos” pela primeira esposa de meu bisavô Germano. Indiferentes a quem chegasse àquelas paragens, como que entre sussurros e acenos ao embalo do vento, aqueles dois longilíneos coqueiros pareciam entretidos numa interminável conversa que já durava mais de um século. Talvez rememorassem fatos de um passado distante, talvez zombassem de nossa diminuta estatura ou, quem sabe, amaldiçoassem o fatídico machado que não tardaria em feri-los mortalmente.

 

Era no verão, a estação da fartura, das frutas, quando mamãe nos levava ainda mais alegremente à casa dos avós. O calor, que já naquele tempo a todos incomodava, era por nós driblado com inocentes diabruras como os proibitivos banhos no rio.  Também fazíamos excursões pelos mangais da vizinhança, mas era na casa da vovó que ficava a nossa fortuna.  Embaixo das mangueiras, sentados sobre suas grossas raízes, ficávamos horas a fio chupando manga, enquanto sabiás e bem-te-vis gorjeavam ao som de uma sonolenta fonte que despejava torrencialmente sobre uma panela de ferro. Ninguém vendia as mangas, seja por falta de mercado ou por desapego mesmo. E quem mais lucrava com isso era a meninada, que, dispensando almoço e jantar, delas nos empanturrávamos.

 

Adulto, ainda gosto de me lambuzar de infância, embaixo de um pé de manga e junto de uma bica d’água. Manga... Que delícia!

 

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